sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Nota do PCB-RJ sobre o 2º turno das eleições para governador no Rio de Janeiro

Nota política do PCB-RJ
Outubro de 2014

PEZÃO E CRIVELLA SERVEM À MESMA CLIENTELA!

Chegamos ao segundo turno das eleições com o resultado das urnas desalentador para a Esquerda, não só no Rio de Janeiro, como em todo Brasil.

Ao que tudo indica, a manifestação da indignação, marcante desde o ano passado e decorrente do esgarçamento do sistema político burguês, se dividiu, eleitoralmente, em duas vertentes. De um lado, um aumento do rechaço na participação, seja através da abstenção, do voto em branco ou nulo. De outro lado, um acréscimo no voto ideológico, à Esquerda e à Direita.

Embora expressiva, a recusa na participação eleitoral não pode ser creditada exclusivamente a campanhas ou boicote consciente da população, uma vez que esses percentuais mascaram diferentes motivações ideológicas. Contudo, o resultado geral revelou um grau de incapacidade da Esquerda em convencer importantes setores, desiludidos com os limites da dita democracia brasileira. A nosso ver, a Direita mais conservadora conseguiu, com maior eficácia, trabalhar os elementos daquele desgaste ao seu favor, apresentando saídas reacionárias, superficiais e simplistas para problemas complexos. A proposta de redução de maioridade penal e militarização da vida são exemplos emblemáticos. Nenhum ataca a raiz do problema, mas são amplamente aceitos como solução de algo que aflige os trabalhadores: a crescente violência nas periferias e bairros populares.

Há que se considerar que o oligopólio midiático e o financiamento privado das campanhas jogam um papel fundamental para que o empresariado consiga manter o controle eleitoral, reforçando as pautas conservadoras e omitindo ou refutando as pautas socialistas. O desequilíbrio da exposição das candidaturas é escandaloso, seja na cobertura das campanhas, seja no mar de sujeira e lama propagandística que inunda nossas paisagens. Por sinal, a propaganda ideológica reacionária não é exclusiva deste período e pode ser percebida em todas as ações dos meios de comunicação burgueses.

No entanto, o aumento do conservadorismo na sociedade também pode ser creditado às alianças do PT, à despolitização patrocinada pelos 12 anos de seus governos e à sua opção por se omitir ao combate; pelos acordos institucionais em detrimento das disputas nas ruas; pela conciliação ao invés do enfrentamento.

No Rio de Janeiro, há que se destacar o significativo voto à esquerda, haja vista as expressivas votações dos parlamentares, Senador e Governador do PSOL e do Senador do PCB. Por outro lado, a composição da Alerj aponta uma guinada significativa à direita, com votações expressivas de Wagner Montes, Flávio Bolsonaro e Samuel Malafaia. Dentre os deputados federais mais votados, destaca-se o fascista Jair Bolsonaro.

No pleito ao cargo de Governador, o panorama é a oscilação entre os gerentes do capital, manobra previsível e controlada pela burguesia, para organizar a máquina estatal segundo a lógica privatizante e mandonista.

Do ponto de vista político, as expressões futuras serão o desmonte acelerado das estruturas estatais, do uso privado da coisa pública, do arrocho salarial e do ataque a direitos dos trabalhadores, da criminalização da política, da repressão e da militarização da vida em geral.

Pezão, candidato da continuidade do governo Sérgio Cabral, unifica conhecidos setores do empresariado (marcadamente as empreiteiras), da mídia (destaque para a Rede Globo) e milícias criminosas. Seu eventual mandato não irá diferir em nada do trágico governo Cabral, cujos marqueteiros habilmente apagaram de seu programa eleitoral.

Crivella, por sua vez, representa a expressão política do fundamentalismo religioso, financiado pela IURD e Rede Record. Reforça o discurso homofóbico, contribui para pôr em xeque o Estado Laico. Seu campo político abarca ainda setores tenebrosos, também da milícia e do coronelato do interior, representados, agora explicitamente, pela adesão de Garotinho. Ou seja, não apresenta qualquer diálogo com o campo político impulsionado pelo PCB no Rio de Janeiro.

Portanto, é claramente equivocado o apoio de parcelas da intelectualidade e forças progressistas nesta disputa entre setores burgueses, cujo sentido está em viabilizar uma candidatura alternativa ao pleito municipal em 2016. Trata-se de um temerário cálculo eleitoral se sobrepondo aos princípios políticos.

Neste cenário, não nos resta alternativa. Declaramos o voto nulo neste segundo turno. Aos comunistas não cabe escolher entre o mal menor entre setores burgueses, como se isso fosse possível. Nem antecipar o cálculo e as disputas eleitorais, nos marcos do capital, rebaixando nossa política.

Reafirmamos que as eleições são apenas uma das várias frentes de nossa luta política cotidiana e os comunistas não se ausentarão de denunciar o vício e a desigualdade daquele processo. Dentro desse contexto específico, entendemos que o voto nulo pode contribuir no combate à deseducação política da classe trabalhadora e à ofensiva da direita organizada. Além disso, sabemos interpretar o recado das urnas: serão as lutas pelo poder popular que organizarão as mudanças efetivas.